sexta-feira, 17 de setembro de 2010

" ÓLEO MINERAL



A febre dos falsos anabolizantes
setembro 14th, 2010 | Author: Profª Esp. Denise Carceroni

No último domingo (12), o Fantástico exibiu uma matéria intitulada “Falsos anabolizantes causam graves problemas de saúde”.

Impressionada com a total falta de informação das pessoas envolvidas nos casos mostrados e mais ainda por saber que muitas vezes a indicação do uso de substâncias ilícitas parte de instrutores (professores ou não), decidi fazer uma pesquisa sobre o assunto. A matéria falava sobre a a aplicação de óleo mineral e de vitaminas de uso veterinário, diretamente no músculo com o objetivo de aumentar o volume.
Óleo mineral

Em uma rápida busca no Google as expressões “óleo mineral” anabolizantes, retornaram 875 resultados e “óleo mineral” músculo, 14.800 resultados. Boa parte dos resultados são notícias de pessoas que aplicaram o óleo mineral no músculo e tiveram problemas. Aparentemente a maioria dessas vem da região nordeste o que é confirmado quando busco por essas palavras e visualizo por região. Não por acaso, a matéria do Fantástico foi feita em Pernambuco. Apesar disso em conversa informal com alguns colegas, descobri que o uso dessas substâncias é feita em São Paulo, de forma bastante comum.

A busca desenfreada por um corpo perfeito, sarado, passa pela falta de informação e pela negligência, a maioria dos usuários são jovens ou adolescentes. Em um hospital em Petrolina (PE), os números assustam, desde o início do ano foram 150 atendimentos, 26 só em setembro (e nem estamos na metade do mês), três atendimentos resultaram em amputação.
Para que serve o óleo mineral?

O óleo mineral pode ser comprado em farmácias e é usado no tratamento da prisão de ventre, por via oral. Ele ajuda por exemplo a desfazer “nós” causados por vermes (lombriga) que obstruem o intestino e quando aspirados acidentalmente podem causar um tipo de pneumonia. Ainda tem sua indicação para uso externo, na pele, para prevenir e tratar ressecamento. Em nenhum momento vê-se indicando seu uso intramuscular.

O que acontece quando injeta-se óleo mineral no músculo?

O óleo se infiltra ou se acumula formando uma espécie de bolsa entre os feixes musculares, criando um processo inflamatório, que se transforma em infecção, destruindo o tecido muscular, ou seja o resultado é exatamento o oposto daquele que injeta a substância deseja. O tecido acaba necrosando e pode levar à amputação do membro e até à morte. Além disso há o risco de se adquirir outras doenças pelo uso da seringa, como AIDS e hepatite.
Vitaminas de uso veterinário

Fazendo a busca no Google usando os termos anabolizante ADE, encontrei 17.600 resultados. Da mesma forma que o óleo mineral a maioria das buscas se concentra na região nordeste.

Para que serve a ADE?

ADE é um complexo vitamínico, oleoso (pois as vitaminas A, D e E são liposolúveis), de uso exclusivamente veterinário, para animais de médio e grande porte. Não é anabolizante!!! Tem a função de prevenir doenças, suprir carências vitamínicas, aumentar a resistência em infecções, tudo isso em animais.

O que acontece quando injeta-se ADE no músculo?

O efeito é semelhante ao do óleo vegetal. Uma pequena parte do complexo vitamínico é absorvido pelo corpo e o restante fica no local, que acaba sendo envolvido por tecido, como meio de proteção do corpo, evitando que o óleo se espalhe. Pode ocorrer inflamação e necrose do tecido.
Como surgiu a ideia de se usar óleo para aumentar o volume muscular?

No final da década de 60 é que data o provável início do uso de drogas de efeito localizado, provavelmente a mais antiga é Esiclene (formebolone, hubernol) que promove uma grande inflamação local, levando ao inchaço e que desaparece após cerca de 3 semanas. Outra substância usada para esse fim é o Synthol, que foi criado por um alemão com o objetivo de obter resultados mais duradouros do que o Esiclene.

A aplicação desses óleos é extremamente dolorida, por isso são misturados com anestésicos locais. Essa dor ocorre pois o músculo é formado por fibras musculares que são envoltas por tecido conjuntivo em diversos níveis, não havendo praticamente espaço livre entre as estruturas, sendo assim quando o óleo é injetado há o rompimento de várias estruturas, não apenas musculares e consequentemente uma inflamação local, com aumento do volume.

Daí para usar o ADE e o óleo vegetal foi um pulo. São muito mais baratos e fáceis de serem adquiridos.

Até aqui espero que você tenha entendido que além de arriscado o uso dessas substâncias oleosas não trás benefício algum no desenvolvimento muscular, tão pouco no aumento da força. Diferente do uso dos verdadeiros anabolizantes que, apesar de ilícitos, fazem o músculo crescer e ganhar força. Leia o post Anabolizantes: para que e para quem? Fonte: GEASE
Se não há benefício algum, porque fazem a aplicação de óleos no músculo?

Conversei com alguns colegas, professores de musculação, praticantes e atletas de fisioculturismo para tentar entender o que leva a uma pessoa a fazer as aplicações. A resposta foi unânime: resultado estético.

Seu uso é muito difundido, e até incentivado (procure em fóruns de discussão), para aumentar o volume de músculos ou parte de músculos que por algum motivo não estão ao gosto do freguês. A panturrilha foi um dos locais mais apontados pela dificuldade em desenvolver os músculos localizados ali. Os óleos serviriam para preencher um espaço, fazendo uma analogia é como o silicone líquido que é usado por travestis para produzir seios ou aumentar o bumbum.
Levando tudo isso em consideração cheguei à algumas conclusões…

Existem dois tipos de usuários. Há aqueles que sabem o que estão fazendo, conhecem os riscos envolvidos, tomam diversas precauções quanto às aplicações (principalmente quanto ao ciclo, mais longo), conseguem o aumento de volume desejado, não sofrem os efeitos colaterais e acabam divulgando o uso. E há os que só conhecem o produto final e acreditando em resultados rápidos, quase milagrosos, usam o produto em ciclos mais curtos, empolgados com os resultados imediatos, o que significa uma maior quantidade do produto no músculo aumentando o risco de inflamações agudas que podem levar à deformações, necrose do tecido, com possibilidade de amputação e até morte.

O que há de diferente entre eles?

O primeiro tem a informação e assume o risco. O segundo é desinformado, acredita no que o amigo ou instrutor falou.

O que há de semelhante entre eles?

Além de saberem que o que fazem é ilícito. Tem em comum a vaidade e a busca pelo corpo perfeito.

É possível conseguir o corpo perfeito com o uso dessas substâncias?

Não posso afirmar que seja impossível, mas de acordo com as conversas informais que tive com meus colegas, geralmente seu uso é bastante evidente e com resultados anti-estéticos. Braços desproporcionais ao tronco, aparência inchada, peitorais mal definidos e “caídos”, parte superior do corpo muito diferente da inferior. Além disso o usuário vai pagar mico na academia, na hora do treino, sendo a força diretamente proporcional à área de seção transversa do músculo, espera-se que alguém com braços enormes, sustente muito peso, mas como não há ganho de massa muscular, também não há ganho de força.
Como combater o uso de substâncias ilícitas, anabolizantes verdadeiros ou falsos?

Só vejo um meio, através de ações educativas.

Cabe à nós Profissionais de Educação Física, principalmente aqueles que atuam em escolas, no ensino médio, e em academias, transmitir nosso conhecimento, orientar nossos alunos e desencorajar o uso de qualquer substância que possa causar prejuízo ao organismo.

Seria interessante uma campanha, contínua, feita pelo sistema CONFEF/CREFs, com o apoio do poder público, no mesmo estilo das usadas no combate ao tabagismo e de combate aos acidentes de trânsito. Com vídeos, imagens e textos fortes, que ao mesmo tempo chocam e informam.

Quanto aos instrutores que indicam, prescrevem e até aplicam em seus alunos (sim, encontrei depoimentos na internet!) esses deveriam responder criminalmente e se tiverem registro no conselho, que sejam cassados e impedidos de exercerem a profissão. Ações de fiscalização e o incentivos para denunciar esse tipo de comportamento podem facilitar a identificação dessas pessoas.

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