quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O CRACK

CRACK- O RELATO DE UMA MORTE PROGRAMADA

Por DJALMA .S.F

Ilhéus, Delegacia de Polícia, sexta-feira, 23h. Lá estava, ao chão, A.C.O., 35 anos de idade, algemado. Fora conduzido à DP por portar 03 pedras de crack e 01 cachimbo improvisado de pvc para o consumo da droga.

Seu estado físico era característico dos usuários de crack. Rosto com ossos salientes, magreza doentia, pontas dos dedos queimados. Apresentava odor em demasia. Suas vestes estavam imundas, típicas de moradores de rua. Chamava atenção, apesar de muito sujas, as roupas que o vestiam. Camisa da Rip Curl, bermudão quadriculado, tênis reebok e um relógio de pulso da Mormaii.

O crack, droga sete vezes mais potente do que a cocaína, tanto no aspecto narcótico como no aspecto necrosal, atua no organismo elevando a temperatura corporal, podendo a qualquer momento causar um AVC. Os neurônios são lesados e o coração atua entre 180 a 240 batimentos por minuto”.

Em poucos minutos, A.C.O. relatou sua vida. Na verdade, relatou a sua morte.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

" ÓLEO MINERAL



A febre dos falsos anabolizantes
setembro 14th, 2010 | Author: Profª Esp. Denise Carceroni

No último domingo (12), o Fantástico exibiu uma matéria intitulada “Falsos anabolizantes causam graves problemas de saúde”.

Impressionada com a total falta de informação das pessoas envolvidas nos casos mostrados e mais ainda por saber que muitas vezes a indicação do uso de substâncias ilícitas parte de instrutores (professores ou não), decidi fazer uma pesquisa sobre o assunto. A matéria falava sobre a a aplicação de óleo mineral e de vitaminas de uso veterinário, diretamente no músculo com o objetivo de aumentar o volume.
Óleo mineral

Em uma rápida busca no Google as expressões “óleo mineral” anabolizantes, retornaram 875 resultados e “óleo mineral” músculo, 14.800 resultados. Boa parte dos resultados são notícias de pessoas que aplicaram o óleo mineral no músculo e tiveram problemas. Aparentemente a maioria dessas vem da região nordeste o que é confirmado quando busco por essas palavras e visualizo por região. Não por acaso, a matéria do Fantástico foi feita em Pernambuco. Apesar disso em conversa informal com alguns colegas, descobri que o uso dessas substâncias é feita em São Paulo, de forma bastante comum.

A busca desenfreada por um corpo perfeito, sarado, passa pela falta de informação e pela negligência, a maioria dos usuários são jovens ou adolescentes. Em um hospital em Petrolina (PE), os números assustam, desde o início do ano foram 150 atendimentos, 26 só em setembro (e nem estamos na metade do mês), três atendimentos resultaram em amputação.
Para que serve o óleo mineral?

O óleo mineral pode ser comprado em farmácias e é usado no tratamento da prisão de ventre, por via oral. Ele ajuda por exemplo a desfazer “nós” causados por vermes (lombriga) que obstruem o intestino e quando aspirados acidentalmente podem causar um tipo de pneumonia. Ainda tem sua indicação para uso externo, na pele, para prevenir e tratar ressecamento. Em nenhum momento vê-se indicando seu uso intramuscular.

O que acontece quando injeta-se óleo mineral no músculo?

O óleo se infiltra ou se acumula formando uma espécie de bolsa entre os feixes musculares, criando um processo inflamatório, que se transforma em infecção, destruindo o tecido muscular, ou seja o resultado é exatamento o oposto daquele que injeta a substância deseja. O tecido acaba necrosando e pode levar à amputação do membro e até à morte. Além disso há o risco de se adquirir outras doenças pelo uso da seringa, como AIDS e hepatite.
Vitaminas de uso veterinário

Fazendo a busca no Google usando os termos anabolizante ADE, encontrei 17.600 resultados. Da mesma forma que o óleo mineral a maioria das buscas se concentra na região nordeste.

Para que serve a ADE?

ADE é um complexo vitamínico, oleoso (pois as vitaminas A, D e E são liposolúveis), de uso exclusivamente veterinário, para animais de médio e grande porte. Não é anabolizante!!! Tem a função de prevenir doenças, suprir carências vitamínicas, aumentar a resistência em infecções, tudo isso em animais.

O que acontece quando injeta-se ADE no músculo?

O efeito é semelhante ao do óleo vegetal. Uma pequena parte do complexo vitamínico é absorvido pelo corpo e o restante fica no local, que acaba sendo envolvido por tecido, como meio de proteção do corpo, evitando que o óleo se espalhe. Pode ocorrer inflamação e necrose do tecido.
Como surgiu a ideia de se usar óleo para aumentar o volume muscular?

No final da década de 60 é que data o provável início do uso de drogas de efeito localizado, provavelmente a mais antiga é Esiclene (formebolone, hubernol) que promove uma grande inflamação local, levando ao inchaço e que desaparece após cerca de 3 semanas. Outra substância usada para esse fim é o Synthol, que foi criado por um alemão com o objetivo de obter resultados mais duradouros do que o Esiclene.

A aplicação desses óleos é extremamente dolorida, por isso são misturados com anestésicos locais. Essa dor ocorre pois o músculo é formado por fibras musculares que são envoltas por tecido conjuntivo em diversos níveis, não havendo praticamente espaço livre entre as estruturas, sendo assim quando o óleo é injetado há o rompimento de várias estruturas, não apenas musculares e consequentemente uma inflamação local, com aumento do volume.

Daí para usar o ADE e o óleo vegetal foi um pulo. São muito mais baratos e fáceis de serem adquiridos.

Até aqui espero que você tenha entendido que além de arriscado o uso dessas substâncias oleosas não trás benefício algum no desenvolvimento muscular, tão pouco no aumento da força. Diferente do uso dos verdadeiros anabolizantes que, apesar de ilícitos, fazem o músculo crescer e ganhar força. Leia o post Anabolizantes: para que e para quem? Fonte: GEASE
Se não há benefício algum, porque fazem a aplicação de óleos no músculo?

Conversei com alguns colegas, professores de musculação, praticantes e atletas de fisioculturismo para tentar entender o que leva a uma pessoa a fazer as aplicações. A resposta foi unânime: resultado estético.

Seu uso é muito difundido, e até incentivado (procure em fóruns de discussão), para aumentar o volume de músculos ou parte de músculos que por algum motivo não estão ao gosto do freguês. A panturrilha foi um dos locais mais apontados pela dificuldade em desenvolver os músculos localizados ali. Os óleos serviriam para preencher um espaço, fazendo uma analogia é como o silicone líquido que é usado por travestis para produzir seios ou aumentar o bumbum.
Levando tudo isso em consideração cheguei à algumas conclusões…

Existem dois tipos de usuários. Há aqueles que sabem o que estão fazendo, conhecem os riscos envolvidos, tomam diversas precauções quanto às aplicações (principalmente quanto ao ciclo, mais longo), conseguem o aumento de volume desejado, não sofrem os efeitos colaterais e acabam divulgando o uso. E há os que só conhecem o produto final e acreditando em resultados rápidos, quase milagrosos, usam o produto em ciclos mais curtos, empolgados com os resultados imediatos, o que significa uma maior quantidade do produto no músculo aumentando o risco de inflamações agudas que podem levar à deformações, necrose do tecido, com possibilidade de amputação e até morte.

O que há de diferente entre eles?

O primeiro tem a informação e assume o risco. O segundo é desinformado, acredita no que o amigo ou instrutor falou.

O que há de semelhante entre eles?

Além de saberem que o que fazem é ilícito. Tem em comum a vaidade e a busca pelo corpo perfeito.

É possível conseguir o corpo perfeito com o uso dessas substâncias?

Não posso afirmar que seja impossível, mas de acordo com as conversas informais que tive com meus colegas, geralmente seu uso é bastante evidente e com resultados anti-estéticos. Braços desproporcionais ao tronco, aparência inchada, peitorais mal definidos e “caídos”, parte superior do corpo muito diferente da inferior. Além disso o usuário vai pagar mico na academia, na hora do treino, sendo a força diretamente proporcional à área de seção transversa do músculo, espera-se que alguém com braços enormes, sustente muito peso, mas como não há ganho de massa muscular, também não há ganho de força.
Como combater o uso de substâncias ilícitas, anabolizantes verdadeiros ou falsos?

Só vejo um meio, através de ações educativas.

Cabe à nós Profissionais de Educação Física, principalmente aqueles que atuam em escolas, no ensino médio, e em academias, transmitir nosso conhecimento, orientar nossos alunos e desencorajar o uso de qualquer substância que possa causar prejuízo ao organismo.

Seria interessante uma campanha, contínua, feita pelo sistema CONFEF/CREFs, com o apoio do poder público, no mesmo estilo das usadas no combate ao tabagismo e de combate aos acidentes de trânsito. Com vídeos, imagens e textos fortes, que ao mesmo tempo chocam e informam.

Quanto aos instrutores que indicam, prescrevem e até aplicam em seus alunos (sim, encontrei depoimentos na internet!) esses deveriam responder criminalmente e se tiverem registro no conselho, que sejam cassados e impedidos de exercerem a profissão. Ações de fiscalização e o incentivos para denunciar esse tipo de comportamento podem facilitar a identificação dessas pessoas.